quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Cervejas e vinhos


As relações humanas sempre são talhadas por aquilo que cada geração carrega consigo. As bebidas, as jóias, as armas, os papéis...tudo que fazemos e usamos é impregnado daqui que somos.

E de tudo que falamos, sempre me chamou a atenção a questão das bebidas que consumimos. Nos aniversários infantis do meu tempo (sem os salões de festas e os especialistas em eventos), a bebida mais comum para o aniversariante e seus convidados da mesma idade era um guaraná morno, e já sem gás, porque as crianças botavam fora e corriam por aí o tempo todo, assim sobrando mais para o cachorro e para aquele menino gordinho que é mais deslocado nos eventos sociais.

Enquanto isso, as mães loucas lá fora, preocupadas que o Ricardinho estava brigando com o Pedrinho, e com as meninas que insistiam em sujar o vestido nas poças de lama, e com a barra dos mesmos que nunca mais voltaria a ser branca. Os pais enquanto isso, bebiam uma cerveja e tentavam conhecer-se melhor, falando sobre carros, futebol e negócios, já que a maioria dos homens quando casa passa apenas a dar atenção aos amigos que são casais ou fazer amigos novos que também são casais. Nesse caso, a cerveja funciona como meio de aceitação e desinibição social, para tentar transformar um momento nem sempre tão agradável em algo menos entediante.

O Happy Hour, é outra coisa interessante na vida das pessoas. Num mundo onde resultados bons são obrigação, e a pressão pega já lá nos cargos de estágio, como é importante beber uma ou outra cerveja para "aliviar a pressão", para poder criticar de maneira mais leve seu colega sem ofendê-lo, para falar mal do chefe e colocar a culpa no álcool. Nesse caso, a cerveja desinibe e criam um ambiente gregário. Para mim, a cerveja é isso, agregadora, com amigos num bar, vendo futebol em casa, a cerveja é mais solar. A cerveja é praia, violão, bossa nova e reggae.

Noites frias de inverno, por exemplo, não tem cara de cerveja. Noites de garoa e solidão, são mais afeitas a um bom vinho tinto. Um Merlot, ou um Tannat, com um pedaço de carne mal passada, que regenera o frio que percorre os ossos no inverno. Um encontro com uma mulher jovem, de cabelos negros, cintura fina e olhos ambiciosos numa cantina italiana, jamais devem ser acompanhados de cerveja, e sim sempre de um bom vinho...

Vinho é poesia líquida, cerveja é música popular fluída. Vinho é salto alto, e calcinha negra fio dental, por debaixo de um vestido apertado de leve nas coxas. Vinho é rock melódico, que toca fundo na alma, como um passeio em gramado, com noite de lareira, e até mesmo como um acampamento à dois, na luz de uma iluminação improvisada. Vinho, é penetração de homem e mulher com seios que roçam de leve contra os pelos do meu peito. Vinho é romantismo, e mesmo aqueles mais leves de verão, tem seu toque de requinte, ainda que o verão seja mais "animal" e menos poético.

Tem mulheres que são mais como o vinho. Sabem consumir-se aos poucos, dando àquele que a aprecia suaves notas de aromas, peles e líquido...como um tempranillo espanhol, que acaricia a garganta quando entra na boca. Tem mulher que é mais cerveja, que gosta de dizer logo a que veio, dando a que a aprecia prazeres inenarráveis com pouca ou nenhuma expectativa de ficar em você depois de algumas horas, e ambas tem seu valor e merecem toda nossa consideração...Entretanto, algumas são até veneno como tequila (mas isso é conversa para outro dia).

Bebamos, pois, tem dia para tudo...

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