quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Da graça de escrever


Muita gente me pergunta porque iniciei meu trabalho aqui no Sol...e na pequena revistinha da minha cidade...

Escrever é uma experiência de sentir o mundo de forma indireta. Por meio das linhas que são ditas (e no meio daquilo que não é dito), fluem inúmeras ideias. Podemos ser Deuses, demônios, podemos criar a chuva no deserto, a neve na amazônia, o calor equatorial na Noruega. Podemos servir tempranillo espanhol aos ribeirinhos, e fazer a classe mais favorecida comer feijão, arroz, com ovo cozido...dizem que todo o escritor é um megalômano, um excêntrico, um estranho no mundo...em relação a este, não sei se concordo muito.

Sim, o Sol é filosófico, político, científico, tem posições liberais e conservadoras, mas o Sol está muito mais próximo do beijo, da trepada, do filho doente, do que propriamente de Marx, Sartre, Mises, Dostoievski, Fernando Pessoa, Clarisse Lispector, e assim por diante. O Sol usa do dia-a-dia pra tergiversar bobagens que não são bobagens, sentimentos que são intrincados, controversos, mentirosos, falaciosos, histórias de chantagens, amores e dores...tudo isso é vida, mas também é filosofia pura, e política pura e assim por diante.

A graça de escrever está naquilo que não está dito diretamente. Você emprega expressões muito suas, que só aqueles que te conhecem bem entendem com precisão (às vezes nem eles)...sinceramente, eu nunca fui muito dado a precisões, eu sempre gostei daquilo que é impreciso, sempre gostei daquilo que é misterioso, do oculto, do não revelado...dentro dos nossos pensamentos, afluem pensamentos dos mais diversos, desejos controvertidos, pensamentos malignos, de bondade, de tanta coisa. De certa forma, se os seus olhos são bem treinados, no meio da maioria dos textos interessantes que você venha a ler, encontrarás muitos sentimentos escondidos dentro dele. Muitos valores particulares e opiniões e valores muito peculiares daquele que escreve e, porque não, das pessoas com quem ele convive. O ambiente também é formador do caráter.

O tempo nos muda também, é bem verdade. Aquilo que era bom aos 25, não é bom aos 30, e assim por diante. Entretanto, mesmo que o tempo passe, na essência nós nunca mudamos. Não deixamos de ser essencialmente aquilo que sempre fomos e nem mesmo deixamos de gostar daquilo que realmente nos importa...poucas coisas realmente importam, e o tempo vai fazendo essa seleção natural pra gente. Alguns escrevem em blogs que alguns poucos leem, outros leem esses blogs, outros ainda vão na igreja universal, ou na associação cristã de moços, outros ainda procuram um psicólogo...outros bebem até cair e tem aqueles que comentem adultério, enfim, cada um sabe o melhor jeito de lidar com as suas aflições.

Dizia o Abujamra que somos felizes quando nosso trabalho aplaca os males da alma. Escrever sempre ajuda a acalmar a minha alma que é tão cheia de males. Ajuda o coração a seguir em frente e nos dá a capacidade de observar melhor o mundo a nossa volta. Não é difícil escrever, e nem tampouco devemos dar muito bola pra métrica ou pra gramática. O que importa mesmo é tirar a roupa, porque a vida é muito melhor quando todos estamos nus, quando somos nós mesmos, animais que todos somos.

Importante: Um texto bom é sempre incômodo...textos bonitinhos e bonzinhos não servem pra nada, apenas para colunetas bobinhas como a do Carpinejar ("se tiver mesmo de escrever, trate a humanidade aos tapas e pontapés" - diz o Diogo Mainardi, eu sinceramente não vou tão longe. Entretanto, as pessoas mais interessantes que conheci são todas assim...incômodas, conflitantes, inquietas dentro de si...um texto tem que te deixar inquieto, como um veneno que invade as veias e deixa aquilo fervilhar o sangue. Use de todas as armas pra isso: figuras de linguagem, paradoxos, metáforas, aforismos, mas principalmente, use de você mesmo...para fazer os outros tirarem a roupa, primeiro você tira a sua, sempre...

O próximo post vai se chamar "sociedade da poesia erótica..." e aí, o que será que vai ter lá?

Um abraço,

Leonardo



4 comentários:

  1. Eu te reconheço em cada palavra, em cada frase, ainda que tivesse lido esse texto perdido em outro lugar, saberia que é teu. Tu és único, Léo! Beijos, Juli.

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  2. Oi, gostei do blog...como faço pra seguir?

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    1. Salene, perdão pela demora em responder. É bem simples seguir o sol, você pode colocar para seguir pelo próprio blogspot, e também pode me acompanhar no Facebook, com a página, o Sol de Leonardo que tem lá.

      Um abraço,

      Leonardo Hartmann

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  3. Juliana. Tu sempre será fonte de inspiração e de alegria por toda a minha vida. Feliz sou eu que vi alguém tão especial como você brotando à vida adulta e se tornando essa grande mulher que você é! Beijo, do seu, Leo!

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